Recebemos este texto de Sérgio Paulo Silva, o caçador de Salreu, Estarreja, que gosta de calcorrear os campos da raia sabugalense, onde manifesta o seu desagrado pela poluição visual que agora ali abunda.
Aída Acosta, espanhola de San Martin de Trevejo, Cáceres, escreve poemas e tem uma paixão indisfarçável pela Raia (de que às vezes nos dá testemunho no seu blog «Lluvia de Libélulas») como seu pai, também poeta, que no conjunto da sua obra escreveu um poema que é um hino à bravura e à sensibilidade dos contrabandistas portugueses da raia. Aída Acosta, espanhola, desde Ciudad Rodrigo ou do seu pueblo, escreve poemas como há muitos séculos escrevia Cervantes ou como agora tantos outros escrevem, e em cada dia trava outra batalha espalhando a sua voz plural pela internet contra a instalação de torres eólicas na Sierra de Gata.
Ao meu computador chegou o seu grito e as imagens do mal que invadiu a sua querida serra, imagens que me doeram na alma porque eu também dividi o meu querer raiano pelos montes de lá, agora escancarados aos ventos, e porque à minha porta conheço o escarro.
Na Malcata, nos Fóios e em Vale de Espinho, no Sabugal profundo, foram colocadas torres de produção de energia eólica. Em nome da energia limpa deram a essas pobres aldeias a poluição paisagística e sonora. Os benefícios financeiros são irrisórios e as escolhas foram dirigidas estrategicamente para aldeias de populações envelhecidas e rarefeitas onde a capacidade de protesto e resistência são nulas. À falta de outros investimentos que bem mereciam, os responsáveis locais aceitam as eólicas como as putas da estrada aceitam qualquer cliente por mais nada lhes restar. E a nódoa fica e multiplica-se.
D. Quixote, como o teceu Cervantes, via a besta nos moinhos e ergueu contra eles a sua lança. Aída Acosta, tantos séculos depois, queima todo o seu amor pela raia clamando contra as pás fantasmagóricas que invadem as serras. Sei do que fala e o que sente. Apaixonei-me, eu que sou do mar, pelos horizontes raianos e aprendi de cor os seus trilhos e cheiros, os contornos de cada monte.
Agora, quando caminho por essas aldeias, já não quero olhar o longe, abrir desmesuradamente o coração. Quando vem o tempo do calor, sigo pelas veredas olhando para o chão onde alguns chupa-mel me podem emprestar um pouco de ternura e, no tempo frio, posso perceber a presença das perdizes.
Não, não quero olhar todos os longes da Raia porque já não tenho a força da seiva raiana da Aída e sei como foi inútil a valentia do Quixote.
Sérgio Paulo Silva
Há muito de cultural nestas nossas atitudes em apreciar ou depreciar as coisas que nos rodeiam e envolvem os nossos sentidos. O homem usa a força da natureza há milhares de anos, a água e o vento através dos moinhos que agora nos parecem tão charmosos.
O problema hoje reside no nosso crescente consumo energético, a competitividade por um lado e o nosso bem-estar não pode ser postos em causa, sobretudo quando essa energia é gerada por uma fonte renovável. Quanto a mim, prefiro mil vezes mais ter aqui moinhos a vento do que co-incineração em fornos de unidades cimenteiras. E ainda que estejamos a falar de coisas diferentes, não podemos esquecer que as eólicas estão aqui por causa das grandes cidades e indústrias do litoral, e não ficaria mal aos decisores políticos se alguma benesse pudesse advir desta produção energética em zonas frias do país e poder beneficiar os locais com custos mais reduzidos para o aquecimento das suas casas, ao contrário do litoral aqui o frio aperta e somos obrigados a consumir energia para nos aquecermos.
Não é verdade que as escolhas foram orientadas para locais de população envelhecida, não é propriamente o caso do Soito. Quanto ao poder reivindicativo, ficou provado no meu caso que ele existe, já que eu como habitante permanente numa aldeia, fui capaz de alterar o traçado de uma torre de transporte de energia, que tinha sido, com o parecer positivo do ICNB, planeada a colocação no centro de uma mata de carvalhos negrais de dimensão apreciável. Foi possível com a ajuda de diversos intervenientes, fazer valer a minha posição que foi tão só a de escolher um local menos lesivo para esta mancha de carvalhos situada em Rede Natura. No fundo fiz o trabalho do ICNB que aparentemente tem desenvolvido mais vocação para a cobrança de taxas.
Por último, aconselho a quem quer que deambule pelos nossos campos, que não fuja o seu olhar das torres no horizonte para o solo onde se arrisca a encontrar uma situação bem mais gravosa com o abundante lixo que inunda os caminhos rurais. Ainda há dias a presidente da Junta me pediu ajuda para referenciar locais onde se encontra lixo para sua posterior remoção, achei piada, porque de facto o lixo encontra-se em toda a parte, á beira da esmagadora maioria dos caminhos rurais e a única forma de o remover com eficiência, é percorrendo todos os caminhos e trilhos rurais.
Se nao tivessem colocado eolicas no nosso Concelho, para o bem do ambiente (que e de todos), e no seguimento daquilo que se vai fazendo pelo Pais e pelo Mundo fora… Ai!! Ja estava instalada a polemica de que o Sabugal tinha ficado para tras.. bla bla…
O que me espanta, e que Espanha apostou fortemente nesta linha de producao de energia… e eu acredito que dara frutos a longo prazo!
QUando plantamos arvores de fruto elas nao dao fruto longo apos a plantacao…
Bueno en que quedamos???
Esta terra submete-se aos interesses de alguns destruindo o seu melhor património.
Perde-se o que de melhor temos sem que haja compensação para a terra.