Comme dit un proverbe africain… «si tu ne sais pas où tu vas regardes d’où tu viens».
Quem conduz o carro no caminho? Será o caminho que ditando as leis do percurso o tornam no condutor? Ou será o homem que segue o traçado imposto pelo próprio caminho.
Caminhar movimenta-nos no espaço e no tempo, onde uma cultura de percurso e contactos energéticos altera a nossa polaridade e sensibilidade. Os velhos amantes são muito parecidos, tornaram-se semelhantes ao longo do tempo de permanente contacto. As relações humanas constituem assim mecanismos de trocas energéticas e de alterações de polaridades, que tanto podem elevar-nos como provocar o efeito contrário. Ao masculino cabe a entrega pela posse, ao feminino a posse pela entrega.
Numa estratégia em que nos damos de comer um pouco para comermos um pouco mais, as ralações entre as pessoas contêm um princípio canibalesco. Os pais também canibalizam os filhos, ao imporem condicionalismos a um crescimento que querem ver perpetuado na sua memória e nos seus genes, estes por sua vez (como algumas aranhas) comem uns pais complacentes, bebendo neles recursos físicos e mentais depauperantes, mas também perpetuadores.
Estas não são relações de Amor, são relações de presa e predador sujeitas à escravidão do argumento evolucionário.
Caminhar afasta-nos também do conteúdo original na criança que fomos. Tornando-se mais difícil ouvir, na multidão de formatos mentais e experiencias de percurso, onde reina o plagiador de identidades convenientes, ao serviço de uma qualquer estratégia de sobrevivência.
Misterioso homem, proclamador de um Darwinismo que a ele não explica, no seu desproporcionado potencial mental, quando uma pequena parte bastaria para ser bem sucedido como espécie.
Voltar à criança depois de percorrer o caminho, à criança sem percursos onde a energia flui, livre de conceitos civilizacionais, onde ela pode ser boa ou má, livre, brincando e movendo-se apenas porque sim, sem razões nem explicações, surfando num oceano de energia fluída, livre de obstáculos mentais, de desejos e tentações. Mas ela tem de crescer, cumprir o animal mental, mergulhar e ser possuída por esse inferno, e esquecer-se de si para um dia talvez relembrar.
A natureza do desejo, faz-nos perseguir miragens no deserto. Atingirmos ou não um desejo, é sermos felizes ou infelizes, o desejo é a moeda em cujas faces está a alegria e a tristeza. Nós desejamos o lado feliz da moeda, esquecendo até que é uma moeda e que como tal o lado feliz não existe sem o lado infeliz. No efémero momento em que possuímos o lado feliz da moeda, não vemos já a sombra da tristeza sobre nós. Assim que ela nos possui deitamos fora a velha moeda e corremos em direcção a outra. A um novo objectivo, que logo perde intensidade para de seguida perseguirmos outro, numa roda-viva de estímulos e respostas em que julgamos ser donos das nossas acções de percurso.
A ilusão da moeda de uma face é a ilusão tentadora no percurso em Matrix (filme), no Maya dos budistas ou simplesmente na nossa própria vida. É assim que a nossa mente entende o mundo, ela divide, não é capaz de ver o Centro, e aceder a um sentimento de totalidade.
O não desejo prepara o terreno, o não desejo em possuir alegria ou em repelir a tristeza por saber serem instrumentos da Matrix, prepara um caminho onde tudo quanto é, é apenas por ser, numa onda de Energia Consciente.
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«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura
(Apicultor da Serra da Malcata)
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