«Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio», pois ele a cada instante renasce no fluxo que transporta. Provérbio Zen.
Nasceu num tempo sem nomes nem homens. Nas suas margens conheceu lobos que nele beberam, veados, corços, linces, ursos, bisontes e outros seres de eras mais recuadas. Gerado por mil nascentes, ao longo de um percurso que então era seu. Deram-lhe um nome, os que dele se apropriaram.
Veio até nós com pureza, oferecendo a água, os peixes, o aroma dos poejos e a força da corrente, que nos moinhos transformava em farinha, o grão que lá entrava. Regando os cultivos nas suas margens, onde as mulheres lavavam roupas que punham ao sol a corar. De todas as povoações, Coadrazais é a primeira a receber o seu nome, e quem sabe, talvez contenha também no final da palavra um afluente do Côa conhecido por Ribeira de Urjais ou dos Rosais. Não me admiraria que em tempos idos, houvesse nestas paragens gentes conhecidas pelos de Côa dos Urjais ou Côa dos Rosais, a semelhança fonética dá que pensar.
Recordo momentos mágicos passados dentro de água pescando trutas à mão. Em zonas de pouca profundidade, pude aprender com os mais velhos a pratica de uma arte que considero ter valor cultural potencialmente explorável.
Delimitando e protegendo zonas do rio especialmente vocacionadas para esta actividade, poder-se-ia considerá-la como possível oferta eco cultural e de interacção com a natureza, no meio de várias outras, seria um potencial negócio e singular imagem de marca das Terras do Alto Côa. Apanhar pelas guelras trutas de boas dimensões, apenas com as mãos nuas, é para mim a mais extraordinária experiência de pesca em rio de montanha. Esta arte piscatória tem ainda um impacto nulo ou até benéfico quando o peixe é retirado da água, já que as trutas de maiores dimensões exercem forte predação nos juvenis.
Este rio, tinha no passado, uma sustentável capacidade de regeneração, aguentando as mais selvagens formas de pesca. Com redes, venenos, bombas de foguetes, esvaziamento de açudes, pistolas submarinas, e até uma outra peculiar só possível em rios de abundância, que consistia em bater com uma marra nas pedras maiores, de forma a atordoar os peixes que por baixo se abrigavam.
Hoje, a nossa truta Fário assim como os grandes cardumes de Barbos, que passeavam rio acima rio abaixo com os maiores à frente e os pequenos atrás, por ordem decrescente de tamanho, aos poucos desaparecem. Pela introdução de achigãs, carpas, trutas de viveiro, alteração dos níveis de oxigénio por acréscimo de matéria orgânica de «proveniências várias»… regularização de um caudal que ao ter menos quedas não favorece a oxigenação, falta de sombreamento das margens útil á diminuição da temperatura da água. E finalmente pela delegação de responsabilidades por parte do Estado, em quem não tem a sensibilidade adequada.
As vacas autóctones desaparecem, os porcos pretos felizmente tiveram refúgio do outro lado da raia. Os corpulentos cães de gado com riscas verticais que segundo li algures eram endémicos desta zona da raia de ambos lados da fronteira, parecem também já ter ido.
Procura-se empreendedorismo e visão criativa. Mas primeiro, temos de perceber porque não gostamos das nossas coisas.
Porque se não gostamos delas como poderão os outros gostar quando de tão por nós maltratadas já nada fazem lembrar.
Ou lembrar-nos-ão ainda a miséria?
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«Caminho sem Percurso», opinião de António Moura
(Apicultor da Serra da Malcata)
Pois é o rio Côa já não é o que era é pena, mas o nosso municipio na da faz para alterar as coisas, mais uns anitos e a nossa truta vai acabar princilpalmente devido á poluição e não so´.