A actividade da Ordem dos Frades Claretianos centralizava-se, fundamentalmente, na evangelização e no ensino, considerado muito importante, conseguindo-se assim angariar vocações para a Ordem, ao contrário da anterior Ordem Hospitaleira de São João de Deus.
Como referimos no escrito anterior, a actividade dos Frades Claretianos, também conhecidos por Marianos, iniciou-se no princípio do ano de 1898, devido à intermediação de Bento Menni contactando os Irmãos desta Ordem que já exerciam a sua actividade nesta zona espanhola, bem próximo da fronteira.
Iniciadas as negociações para a passagem do Colégio para esta Ordem, chegou-se a um entendimento em relação aos bens móveis e ao edifício, comprometendo-se a nova Ordem, a ficar com as dívidas já existentes, formalizando-se a escritura no início de Janeiro deste ano, embora a sua chegada a Aldeia da Ponte para tomar conta do Colégio tenha sido em Maio.
Depois de cumpridas todas as formalidades, os novos Frades, todos espanhóis, foram recebidos de braços abertos e em clima de festa pelo povo, ao som da Banda de Música de Aldeia da Ponte, composta por cerca de vinte e dois elementos, que ao tempo já existia, conforme abordei num escrito recente.
Devido à situação politica actual e, como a vida não era nada fácil para as Ordens Religiosas em Portugal, foram aconselhados a serem moderados e a usarem os mesmos hábitos dos demais religiosos. A entrada dos novos Frades contou também com o apoio do Sr. Bispo da Guarda, D. Tomás de Almeida, que já autorizara a ida dos Irmãos de S. João de Deus para o Colégio.
Em 1901, as Congregações Religiosas que se dedicavam ao ensino, beneficência ou outras, foram obrigadas a legalizar-se, constituindo estatutos apropriados, sendo encerradas as que não obedecessem ao decreto-lei, que assim o determinava.
Os Frades espanhóis assim o fizeram, apresentando em Abril, uns primeiros estatutos improvisados, tentando convencer as autoridades, respondendo estas, com uma reacção demasiado enérgica, que poderia ter sido fatal para a Ordem, sendo todos expulsos para Espanha.
Passado pouco tempo, surgiram mudanças no Concelho de Sabugal e, contando com o apoio do Governador Civil da Guarda, nesta situação mais favorável, foram apresentados novos Estatutos da Associação do Colégio, contendo 18 artigos, que viriam a ser aprovados meses mais tarde, em Outubro desse ano. O Colégio conseguiu, com este passo, ficar assim dentro da lei, continuando a sua missão em Aldeia da Ponte, com novos Frades espanhóis, condição imposta pelo Governo Civil, não permitindo o regresso dos anteriores, sendo todos substituídos, prosseguindo e alargando a sua acção por toda esta região.
Com a morte de D. Tomás de Almeida em 1903, sucede-lhe como novo Bispo da Guarda, D. Manuel Vieira de Matos, que igualmente, lhe concede a sua protecção e apoio, ao mesmo tempo que estabelece ali uma extensão do Seminário da Guarda.
Conforme determinavam os estatutos, o Colégio passa a funcionar como estabelecimento escolar, contemplando o ensino oficial, primário e secundário, aproveitando os Frades para ministrar também o apostolado, chegando a ser frequentada por cerca de 200 alunos, onde se estudavam as diferentes disciplinas, como o Latim, Português, Francês, Literatura, Filosofia, Matemática e Ciências Naturais, recorrendo-se também a aulas nocturnas. Mediante o ensino destas disciplinas e com bons professores, alguns até da nossa região, o Colégio foi determinante para o grau de conhecimentos adquiridos, contribuindo para a elevação do nível cultural de quem teve a oportunidade de passar por Aldeia da Ponte, naquela época longínqua.
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«Ecos da Aldeia», crónica de Esteves Carreirinha
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