Fernando Proença é o presidente da Junta de Freguesia de Vale das Éguas. Visionário e empreendedor já idealizou e concretizou muitos projectos empresariais. Contudo o mês de Agosto de 2007 marca uma das suas mais importantes realizações. A zona de lazer da Insua no rio Côa transformou para sempre o ritmo de vida das gentes da sua terra.
Fernando Proença, 62 anos, casado, três filhos, é um empresário empreendedor, multifacetado com investimentos em áreas diversificadas. É presidente da Junta de Freguesia de Vale das Éguas «desde sempre, ou melhor, obrigaram-me a interromper no 25 de Abril durante um ano, mas depois foi até hoje» como gosta de recordar para que conste no seu bilhete de identidade de autarca.
Foi, muito novo, para Lisboa trabalhar numa padaria mas percebeu que aquilo não era o seu sonho, o seu objectivo de vida. Voltou a Vale das Éguas mas por pouco tempo. Em 1962 emigrou «a salto» para França. «Demorei 14 dias para chegar a Paris. Mas não vale a pena falar disso. Tive momentos de grande dificuldade e risco», relembra a custo. Mas a sua estadia por terras francesas durou apenas dois anos. Sentiu que também aquele não era o seu lugar. Sentia a falta do seu rio, das suas águas geladas e cristalinas. Em 1964 voltou a Vale das Éguas e meio ano mais tarde estava a fazer o exame para a carta de condução.
E começou o corropio entre Portugal e França transportando emigrantes clandestinos. Fintava como podia as brigadas policiais de Portugal, Espanha e França. «Tive alguns problemas mas escapei sempre com alguma sorte.»
O Sabugal é terra de emigrantes (especialmente em França) e nos anos 60 e 70 poucos eram os que tinham carro próprio ou porque não sabiam ler ou porque tinham outras prioridades para as economias duramente poupadas.
Nas suas palavras sente-se um grande amor pelo rio, defendendo que o Côa tem condições naturais impares e podia estar mais bem aproveitado.
– E quais são as obras mais emblemáticas da Junta?
– Ao longo de mais de 30 anos já lhes perdi a conta. Temos as ruas todas calcetadas pela Junta e tivemos uma intervenção activa na aprovação do alcatroamento das estradas para Ruivós, Valongo e Bismula.
Mas o grande tema do momento é mesmo a Zona de Lazer de Insua, um parque fluvial com piscinas no rio Côa junto a um velho moinho de água.
– Para chegar aqui percorremos um caminho calcetado com paredes em pedra ancestrais. Foi uma obra cara?
– Tentámos manter as paredes mas foi necessário fazer alguns desvios para permitir o cruzamento de veículos durante o percurso. O calcetamento teve um custo de 90 mil euros e o IFADAP atribuiu-nos uma ajuda para metade. A outra metade foi paga pela Junta de Freguesia. Começámos por um parque de merendas com um assador e uma piscina.
Nas grandes enchentes deste Inverno a obra estava quase concluída mas foi tudo pelo rio abaixo. «Tivemos que reparar os açudes e as veladas para termos água. Passei um mau bocado porque as verbas são poucas e senti-me desanimado. Foi um momento difícil mas como não sou homem de desistir com mais um pouco de sacrifício reconstruimos tudo de novo com a ajuda da Câmara Municipal que ajudou na reparação dos açudes.»
Para o espaço ficar mais atractivo e acolhedor foi semeado um relvado com cerca de 800 metros quadrados. Os primeiros dias de Agosto têm sido uma agradável surpresa e, por exemplo, no dia 9 de Agosto os directores da Associação local contabilizaram mais de 200 pessoas no bar de apoio à praia fluvial que a Junta lhes ofereceu à exploração.
– O movimento anormal de carros e pessoas tem sido bem recebido pelo povo?
– Os habitantes de Vale das Éguas estão satisfeitos porque muitos dos que nos visitam são de terras vizinhas. Vamos repensar o projecto e criar ainda mais condições aos utilizadores do espaço. Fomos a Lisboa comprar mais quatro canoas para juntar às quatro que já tinhamos de modo a satisfazer a procura. O rio está mais colorido e com mais movimento com estas canoas. Deixo aqui apenas um pedido. Que estimem o espaço, que o deixem limpo como o encontram porque a Junta não tem condições para ter pessoal a cuidar da manutenção do espaço.
Neste espaço natural e sem agressões ambientais os únicos sons que escutamos são da água a passar pelo velho moinho que teve as paredes e o poço recuperados.
O empresário que ao longo da vida diversificou a sua actividade pelo café da aldeia, pelo bar «Fora d’Horas», pela discoteca «Teclado» e outros investimentos é um homem dedicado à sua terra, visionário, aventureiro com os pés bem assentes na terra e que tem feito tudo o que pode pela sua freguesia.
As ideias, as iniciativas e as obras são sempre válidas. «Mais vale ser criticado por fazer do que por nada fazer. A diferença nos projectos está se eles têm utilidade e são usados no futuro», acrescentou a finalizar.
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A praia fluvial de Vale das Éguas mais do que uma promessa de futuro é já uma certeza no presente enquanto equipamento de uso público com qualidade acrescida e excelente aproveitamento de espaço. Façam o favor de a utilizar.
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«À fala com…», entrevista de José Carlos Lages
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